terça-feira, 11 de dezembro de 2012

INTUIÇÃO, DEDUÇÃO E ORÁCULO: UM ESTUPRO DE CASO SOBRE O SETOR IMOBILIÁRIO


Uma coisa legal sobre a Economia é que, mesmo com tantos números ela faz parte das Ciências HUMANAS. Sim, Humanas.

O que a Economia faz, ou deveria fazer, é analisar o comportamento humano/econômico das massas/pessoas para prever e planejar o sistema de maneira a torná-lo SUSTENTÁVEL , RESPONSÁVEL e ÉTICO (piada pronta né).

Sendo assim, os números e índices econômicos sou eu e os meus conhecidos assim como você e os seus conhecidos. Nós somos os números dos gráficos econômicos assim como os nossos amigos, o pessoal do trabalho, a família etc. Então pergunto: das pessoas que eu conheço, quantas compraram imóvel ou estão atrás de um?
Resp:  03 compraram - todos endividados até o pescoço e tentando vender o perereco que comprou.

Esse é um dado de amostragem econômica mais do que o suficiente para mim. Não tem dado estatístico econômico mais revelador e confiável do que a minha própria vida e a dos que me cercam. Nós somos a economia. O resto é balela.


Outro fato que o dado EU revela sobre este setor é que o meu aluguel subiu mais do que a minha renda. A minha casa (em outra cidade e quitada faz tempo) não vale o que os corretores dizem que vale e ninguém dá nela o valor que esses morféticos dizem valer.

O gráfico EU não vê um número substancial de pessoas próximas comprando imóvel . Nem para morar. Nem para investir.
Para ser mais exato, só não afirmo categoricamente que não sei de ninguém que esteja atrás de comprar um imóvel porque eu conheço muita gente ... não é possível, deve haver alguém.


Mas para não ficar só no empirismo eu vou falar de mais economia de verdade e confiável. A  HUMANA.

Sendo a Economia a menos exata das Ciências Humanas, vamos falar então de um dos aspectos antropológicos, filosóficos e sociais mais importantes da sociedade HUMANA. Sociedade esta que deixou de migrar para se tornar sedentária reivindicando espaços, erguendo muros e dividindo-se em atividades especializadas, famílias e relações monogâmicas (piada pronta) separadas dentro desses espaços em lugares que chamamos de LAR. Desde os primórdios o LAR é o aspecto geográfico mais importante para uma pessoa antes da cidade, estado, país etc. Matamos e morremos por isso. Lutamos, progredimos e regredimos pelos nossos espaços.

Nos primórdios das civilizações, logo que deixamos a vida de coletores e fundamos as cidades, que é a reunião de lares humanos, um dos primeiros adventos foram os muros para evitarmos invasões e saques. Os conflitos naquela época eram baseados na procura dos recursos naturais que a cidade tinha. E dentro dessas cidades já havia a apropriação indébita das coisas alheias, e foi por isso que os chefes desses clãs/cidades instituíram as primeiras leis e punições.
Os primeiros exércitos foram criados exclusivamente para defender essas cidades (externa e internamente) que não passavam de um punhado de poucos lares cercados por um muro. Muitos destes menores do que os condomínios que temos hoje.

Dessa maneira  o rio, os metais preciosos, o clima e a manufatura dessas cidades antigas podem ser comparados com a economia (pib) das cidades modernas. Da mesma maneira, as guerras do passado podem ser comparadas com a procura (de imóvel) por uma região dos dias de hoje (conseguir o melhor lugar pelo MENOR custo).

Mas se antigamente matávamos e morríamos para fixarmos nossos lares perto de um bom rio, com um clima ameno e recursos naturais excelentes, porque hoje NOS SUICIDAMOS financeiramente absorvendo dívidas crescentes em lares situados em cidades cuja economia inegavelmente está murchando, com rios e ar poluídos, barulhentas e cujos habitantes estão matando a si próprios????? (Violência nas cidades modernas não é mais sinal de procura como nas antigas, mas sim de degeneração).

Em se tratando de lar - pois se o Setor Imobiliário vende imóvel o que as pessoas procuram é um lar -  as condições de vida do meu bairro e cidade (São Paulo) PIORARAM. Onde moro não tenho rios e ar puros, nem parques acessíveis. O trânsito piorou, o transporte público piorou, a violência piorou e o comércio da região parou no tempo - mas na inflação não. As ruas estão esburacadas, as calçadas uma porcaria - quando não tem buraco tem árvore no meio delas. Os semáforos de pedestres demoram uma eternidade para abrir (cada dia que passa a prefeitura atrasa mais o tempo deles) e não tem NENHUM radar para os automóveis, sendo ali uma avenida muito movimentada e perigosa.

Em consonância à construção de mais e mais condomínios, NENHUMA obra para melhorar o bairro foi feita.  Além de mais oferta de condomínios numa região estropiada que não suporta mais moradores do que já tem, não houve nem parece haver obras de melhoria e compensação para suportar mais gente.

Por conta dessas precariedades que impossibilitam o crescimento do número de pessoas na região, a associação de moradores está com uma ação judicial para EMBARGAR a construção de condomínios já em construção no bairro. Será que os corretores que ainda fazem seus plantões de venda falam sobre isso?

O valor do imóvel  da minha região sobe então baseado no que? Porque tanta gente quer me ter como vizinho jogando o valor do meu aluguel lá para cima?

Pergunto. Vamos supor hipoteticamente que você compre um carro. Aí você  bate, risca, funde o motor, cai num rio ... na hora de vender tem como o valor ser 04 vezes maior?
Se a economia é ciências HUMANAS, qual é a razão humana para pagar 04 vezes mais num imóvel situado num bairro 10 vezes pior para um ser HUMANO viver?

É tudo artificial. Eles (construtoras) fazem condomínios com piscina, área disso e daquilo para as pessoas esquecerem que VÃO TER QUE SAIR PELO PORTÃO E ENCARAR A CIDADE. MORAMOS EM CIDADES e não em subcidades chamadas de condomínios. A aceitação de viver em condomínios é aceitação de que a cidade morreu e de que não há mais possibilidade de se viver em sociedade.

Condomínios, ou subcidades, não corroboram para que as pessoas se agrupem em sociedades cujo espaço geográfico é denominado por Cidade. Os motivos que levam as pessoas a se agruparem em Cidades não podem ser os mesmos que levam a pessoas a se sub-agruparem em Condomínios. Aceitar ser normal viver em condomínio é aceitar a morte da cidade e da convivência social garantida (ou que deveria ser) pelo seu governo.

Cada condomínio murado dentro de uma cidade é uma pseudo subcidade que fermenta ainda mais os conflitos de uma cidade que MORRE. Segrega e MORRE.

Cada grupo de 1000 pessoas que compra um condomínio diz, silenciosamente.
“Ok, aqui fundo A MINHA cidade, já que compartilhar e conviver com as pessoas que vão ficar para fora desse muro não é mais possível. Meu filho num parque público. Impossível. Meu cachorro cagando numa calçada pública (vamos recolher pessoal), coitado do cú dele. Impossível. É impossível conviver. Desisto. Para lá desse portão são eles, os inimigos. Compro então meu mega carro-tanque e vou com força e violência, pois tudo é ameaça, tudo é perigo, tudo é inimigo.” (Consciência “condômina”).


Quanto ao governo, apoiar o crescimento vertiginoso de subcidades é assumir, também silenciosamente, sua incompetência de gerir este agrupamento de pessoas chamado de cidade. É admitir não poder dar para os cidadãos condições urbanas suficientes para todos de maneira a não precisar de conflito.

Um governo deveria garantir não ser preciso viver em movimento por outras montanhas, por outros rios etc atrás de melhores condições de vida. Coletando e brigando com outros nômades.  Neste espaço harmonioso chamado de cidade deveria haver o suficiente para todos, e é por isso que as pessoas se assentam nelas.

Na mesma proporção em que os condomínios vendem o que os governos deveriam garantir para todos (segurança, espaço publico de convivência, espaço verde etc) as pessoas aceitam o fim da sua cidade.

Cada alvará que o governo dá para alguém vender uma subcidade murada é assinar o seu atestado de incompetência.

Deixar mais um condomínio ser construído é assinar publicamente.
“Ok, não posso mesmo lhes dar isso – segurança, convivência, paz etc – Por isso eu aceito vocês se agrupando nesta sub-cidade. Fiquem com ela, briguem por ela. Se virem sozinhos pois eu, o governo, não dei conta de vocês.” (o que deveria estar escrito no alvará).

Esta é a cidade de São Paulo de hoje. Segregada e segregatória. Estética e violenta. Sem infraestrutura urbana para além das portarias dessas subcidades. Cheia de conflitos sociais silenciosos e mortais.


O governo assina publicamente a sua falência a cada novo alvará para se construir um novo condomínio. As pessoas pagam o governo e o condomínio para receberem a mesma coisa (mas o governo não dá). Para fora das portarias está tudo deteriorado, mesmo que esteticamente esteja biito (pelo menos sem gente feia pelas calçadas. E onde elas foram parar?, Quem se interessa?). Ainda assim, o oráculo de algum economista com seus números obtidos numa taboa de ouija ou de búzios disse.
“O imóvel de quem quiser morar aqui deve valer cada vez mais R$, mesmo que as suas vidas e condições de moradias valham menos R$ a cada dia que passa.” (Painomista imobiliário).

Mas Painomista, o senhor não pensa que ...

Minzifio pode subir sim. Se o oráculo disse, se a ouija disse e se você acreditar sobe. Mas se você não acreditar a culpa é sua que não acreditou o suficiente eh eh – ih ih”. (Painomista Imobiliário).



Então vamos cobrar mais e mais e mais. Se alguém questionar e apontar dados, damos uma parafraseada em Chico Buarque:
“[Se a ciência provar o contrário. Se o calendário nos contrariar. Se o destino insistir em desvalorizar ...
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas, os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos, sinopses, espelhos, conselhos. Que se dane o evangelho e todos os orixás. Serás investimento e irás valorizar.]” (Economia Imobiliária visitando Chico)














Para terminar, mais um pouquinho de Chico Buarque.








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